Impacto Acadêmico: desvendando a relação entre APCs e visibilidade científica

Antes do surgimento do movimento de Acesso Aberto (AA ou OA, open access), no início dos anos 2000, grande parte da literatura científica estava restrita a periódicos internacionais, com elevado fator de impacto e que cobravam elevadas taxas de assinatura, sendo acessíveis apenas a instituições e indivíduos com recursos financeiros significativos, que garantiam o alto faturamento das grandes editoras.

Desde então, esse movimento tem transformado o cenário da publicação científica, promovendo um acesso mais amplo e igualitário ao conhecimento produzido pelas comunidades acadêmicas. Com o fortalecimento do AA, o modelo de assinaturas encontra-se em declínio, mas não as grandes editoras. Estes passaram a adotar o modelo de APCs (Article Processing Charges), cobrando elevadas taxas dos autores, para processamento de seus artigos. Os APCs tornaram-se "onipresentes no norte global, adotados por periódicos com fins lucrativos e encorajados por muitos financiadores líderes europeus e norte-americanos"1, como afirma Juan Alperin, diretor associado de pesquisa do Public Knowledge Projetc (PKP).

Estudos recentes (Khoo, 20192; Asai, 20193) sugerem que grandes editoras de periódicos por assinatura tendem a definir APCs mais altos4. E muitos pesquisadores buscam periódicos com elevado fator de impacto nas grandes editoras para submeter seus trabalhos.

Essa transição, no entanto, traz à tona uma questão importante: o impacto das publicações científicas pode estar atrelado ao valor pago em taxas de processamento de artigos (APCs)? Uma pesquisa recente (Maddi e Sapinho, 20224) intitulada "Taxas de processamento de artigos, altmetria e impacto de citações: existe uma justificativa econômica?" oferece insights valiosos sobre essa questão, desafiando algumas crenças comuns.

O que são APCs?

As APCs são taxas que os autores pagam para que suas publicações sejam disponibilizadas em acesso aberto. Embora a ideia de que pagar mais signifique maior visibilidade e impacto pareça lógica, os resultados da pesquisa indicam que essa relação não é tão simples.

O Fator de Impacto

O Fator de Impacto é uma métrica que reflete a frequência média com que os artigos de um periódico são citados em um determinado período. O Journal Citation Reports, da Clarivate, é um dos principais relatórios utilizados como um indicador da reputação e influência de um periódico. Um fator de impacto alto sugere que os artigos publicados nesse periódico são frequentemente citados, indicando sua relevância e qualidade percebida na comunidade científica.

Pagar alto não garante maior impacto

Um dos achados mais surpreendentes do estudo de Maddi e Sapinho4 é que pagar altos APCs não necessariamente resulta em um aumento no impacto das publicações. A pesquisa analisou um vasto conjunto de dados, revelando que a correlação entre o valor das APCs e o impacto acadêmico é moderada. Isso significa que, mesmo que um autor opte por publicar em uma revista que cobra uma taxa elevada, isso não garante que seu trabalho será mais citado ou reconhecido na comunidade científica.

Outro ponto importante levantado pela pesquisa é que as grandes editoras, conhecidas por sua alta qualidade e impacto, não são necessariamente as que cobram as taxas mais elevadas. Na verdade, muitas editoras de renome oferecem APCs competitivos, desafiando a ideia de que o custo é um indicador direto da qualidade da publicação. Isso sugere que os pesquisadores devem ser cautelosos ao escolher onde publicar, considerando não apenas o custo, mas também a reputação e o impacto da revista.

Além disso, o estudo também revela que as editoras que cobram os APCs mais altos não são, por sua vez, as melhores em termos de impacto acadêmico. Essa descoberta é crucial para autores e instituições que buscam maximizar a visibilidade de suas pesquisas. A pressão para publicar em revistas de alto custo pode ser enganosa, levando a decisões que não necessariamente beneficiam a disseminação do conhecimento.

Altmetria influencia no APC?

As altmétricas, que medem o impacto e a visibilidade de publicações científicas através de interações em redes sociais, blogs e outras plataformas online, também foram abordadas na pesquisa. Os resultados indicam que as altmétricas não têm um impacto significativo na determinação das APCs. Surpreendentemente, os artigos que recebem mais atenção nas redes sociais tendem a ter APCs mais baixos. Isso sugere que a popularidade online não está diretamente relacionada ao custo de publicação, desafiando a noção de que um alto APC necessariamente resulta em maior visibilidade.

Além disso, a pesquisa destaca que as altmétricas são frequentemente mal interpretadas como um substituto para a qualidade acadêmica. Embora possam fornecer uma visão sobre a atenção que um artigo recebe em plataformas digitais, elas não são um reflexo confiável do impacto acadêmico tradicional, como as citações em revistas indexadas. Os resultados sugerem que o número de leitores e a interação com o conteúdo são mais indicativos de impacto do que as altmétricas em si.

Portanto, os pesquisadores e instituições devem considerar uma abordagem mais holística ao avaliar o impacto de suas publicações, levando em conta tanto as métricas tradicionais quanto as altmétricas, mas sem superestimar a importância das APCs ou das altmétricas como indicadores de qualidade. Essa compreensão pode ajudar a promover uma publicação mais estratégica e informada, beneficiando a disseminação do conhecimento científico de forma mais eficaz.

Conclusão

Os resultados da pesquisa de Maddi e Sapinho4 nos convidam a repensar a relação entre APCs e impacto das publicações. Em um cenário onde o acesso aberto é cada vez mais valorizado, é fundamental que autores e instituições considerem uma abordagem mais crítica ao escolher onde publicar. O custo não deve ser o único fator determinante; a qualidade, a reputação da revista e o verdadeiro impacto acadêmico devem ser priorizados.

Em suma, a busca por um impacto significativo na pesquisa científica não deve ser medida apenas pelo valor pago em APCs. A comunidade acadêmica deve se unir para promover uma cultura de publicação que valorize a qualidade e a acessibilidade, em vez de se deixar levar por mitos sobre custos e impacto.

Referências

  1. Alperin JP. Why I Think Ending Article-Processing Charges Will Save Open Access. Nature. 2022; 610(7931), 233–233. www.nature.com, https://doi.org/10.1038/d41586-022-03201-w.
  2. Khoo S. Hiperinflação da taxa de processamento de artigos e insensibilidade ao preço: uma sequência de acesso aberto para a crise dos seriados. LIBER Quarterly. 2019; 29 (1), 1–18. https://doi.org/10.18352/lq.10280
  3. Asai S. Determinantes de taxas de processamento de artigos para periódicos médicos de acesso aberto. Journal of Electronic Publishing. 2019; 22 (1). doi: https://doi.org/10.3998/3336451.0022.103
  4. Maddi A, Sapinho D. Article Processing Charges, Altmetrics and Citation Impact: Is There an Economic Rationale?. Scientometrics. 2022; 127(12), 7351–68. Springer Link, https://doi.org/10.1007/s11192-022-04284-y.

https://www.nature.com/articles/d41586-022-03201-w

https://link.springer.com/article/10.1007/s11192-022-04284-y?fromPaywallRec=false

Eugênio Telles

Eugênio Telles

Eugênio Telles é publicitário pós-graduado em Marketing Digital pela ESPM-RJ, fundador e diretor executivo da GeniusDesign e consultor OJS há mais de 10 anos.

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