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Ciência e prestígio: como revistas científicas podem driblar Efeito Mateus

A ciência é um campo que se baseia na produção e disseminação do conhecimento, mas nem todos os pesquisadores e artigos recebem a mesma atenção. Um fenômeno bem documentado nesse contexto e que abordaremos neste artigo é o Efeito Mateus, quecomo pesquisadores renomados e instituições de prestígio tendem a receber mais citações, financiamento e oportunidades, enquanto cientistas menos conhecidos enfrentam dificuldades para ganhar visibilidade1.

A origem e o significado do Efeito Mateus

O termo Efeito Mateus foi cunhado pelo sociólogo da ciência Robert K. Merton em 1968, inspirado na passagem bíblica do Evangelho de Mateus (25, 29): "Porque a todo aquele que tem, dar-se-á, e terá em abundância; mas ao que não tem, até aquilo que tem ser-lhe-á tirado." A ideia central é clara: quanto mais reconhecimento um cientista já possui, mais ele tende a receber.

Muitas vezes, pesquisadores altamente qualificados, mas menos conhecidos, têm dificuldades para obter financiamento e publicar seus estudos em periódicos de prestígio. Esse mecanismo perpetua a desigualdade e impacta diretamente a inovação e diversidade na ciência2.

O impacto do Efeito Mateus na produção científica

O Efeito Mateus pode gerar diversas consequências para a ciência, influenciando tanto a produção de conhecimento quanto a trajetória de pesquisadores individuais. Entre os principais impactos, destacam-se:

Concentração de citações e impacto

Pesquisadores renomados frequentemente veem seus trabalhos sendo mais citados, independentemente da real qualidade de seus artigos. Isso ocorre porque a reputação prévia de um autor muitas vezes induz outros cientistas a considerarem suas publicações como referência obrigatória, gerando uma concentração de citações em torno de poucos nomes3.

Distribuição desigual de recursos

O financiamento científico segue um padrão semelhante: pesquisadores já bem estabelecidos conseguem mais facilmente recursos para novos projetos, enquanto cientistas de instituições menos prestigiadas enfrentam dificuldades para garantir apoio financeiro. Essa dinâmica reforça desigualdades e reduz a diversidade na produção científica4.

Dificuldade na ascensão de novos pesquisadores

Pesquisadores em início de carreira frequentemente encontram obstáculos para publicar em revistas de alto impacto e ganhar reconhecimento por suas contribuições. Essa barreira pode retardar ou impedir a ascensão de novos talentos na academia5.

Viés no sistema de avaliação

A revisão por pares, um dos pilares da publicação científica, também pode ser influenciada pelo prestígio do autor ou da instituição, dificultando a avaliação objetiva dos manuscritos. Esse viés compromete a diversidade de ideias e limita o avanço científico6.

O Efeito Mateus em revistas científicas

Revistas científicas de alto impacto frequentemente favorecem autores já estabelecidos, rejeitando trabalhos de pesquisadores menos conhecidos, mesmo quando apresentam contribuições relevantes. Esse padrão reduz a pluralidade da produção científica e fortalece um pequeno grupo de acadêmicos e instituições na definição dos rumos do conhecimento7.

Além disso, artigos publicados em periódicos de alto fator de impacto são mais citados, reforçando o ciclo de prestígio acadêmico. Esse fenômeno dificulta a emergência de novos periódicos e limita o alcance de pesquisas inovadoras publicadas em veículos menos renomados8.

Estratégias para mitigar o Efeito Mateus em revistas científicas

Diversas abordagens podem ser adotadas para reduzir os impactos negativos desse fenômeno e tornar a ciência mais equitativa.

Avaliação cega por pares

Embora já amplamente utilizada, algumas revistas reforçaram práticas de revisão duplo-cega (onde tanto revisores quanto autores são anônimos), para reduzir o impacto do nome do autor e da instituição na avaliação dos artigos. A adoção de revisões cegas, nas quais a identidade dos autores não é revelada aos avaliadores, pode minimizar viéses e permitir uma análise mais objetiva da qualidade dos artigos9.

Adoção de métricas alternativas

Periódicos passaram a considerar outros indicadores além das citações tradicionais, como compartilhamentos em redes sociais, downloads e menções em blogs científicos, permitindo que pesquisas inovadoras ganhem mais visibilidade independentemente do prestígio dos autores ou instituições7. Critérios como aplicabilidade social e inovação podem oferecer uma visão mais ampla do impacto dos estudos10.

Incentivo à divulgação científica

A democratização do conhecimento pode ser impulsionada pelo uso de redes sociais acadêmicas, blogs científicos e eventos que promovam a disseminação de pesquisas para públicos mais amplos11. Além disso, a parceria com jornalistas e meios de comunicação pode ampliar o impacto de artigos publicados em periódicos menos conhecidos, garantindo que pesquisas inovadoras alcancem um público mais amplo7.

Políticas de financiamento mais inclusivas

Programas de financiamento podem ser estruturados para garantir que pesquisadores de diferentes instituições e contextos tenham acesso igualitário a recursos. Editais voltados para jovens cientistas e universidades emergentes podem contribuir para uma distribuição mais equitativa12.

Conclusão

O Efeito Mateus influencia significativamente a produção científica, favorecendo aqueles que já possuem prestígio e dificultando a ascensão de novos talentos. Medidas como revisão cega, adoção de métricas mais abrangentes e políticas inclusivas podem ajudar a equilibrar o reconhecimento acadêmico e fortalecer a diversidade no desenvolvimento do conhecimento.

Referências

  1. Merton RK. The Matthew effect in science. Science. 1968;159(3810):56-63. Disponível em: https://www.science.org/doi/10.1126/science.159.3810.56
  2. Bol T, de Vaan M, van de Rijt A. The Matthew effect in science funding. Proc Natl Acad Sci U S A. 2018;115(19):4887-90. Disponível em: https://doi.org/10.1073/pnas.1719553115
  3. Wang D, Barabási AL. The Science of Science. Cambridge University Press; 2021. Disponível em: https://arxiv.org/abs/2002.04396
  4. Stephan P. How Economics Shapes Science. Harvard University Press; 2012. Disponível em: https://www.nber.org/papers/w19941
  5. Ioannidis JP. Concentration of the most-cited papers in the scientific literature: Analysis of journal ecosystems. PLoS ONE. 2006;1(1):e5. Disponível em: https://doi.org/10.1371/journal.pone.0000005
  6. Bornmann L, Daniel HD. Do citation counts measure quality? J Doc. 2008;64(1):45-80. Disponível em: https://doi.org/10.1108/00220410810844150
  7. Sugimoto CR, Work S, Larivière V, Haustein S. Scholarly use of social media and altmetrics: A review of the literature. J Assoc Inf Sci Technol. 2017;68(9):2037-62. Disponível em: https://doi.org/10.1002/asi.23833
  8. Larivière V, Haustein S, Börner K. Long-distance interdisciplinarity leads to higher scientific impact. PLoS ONE. 2013;8(3):e57918. Disponível em: https://doi.org/10.1371/journal.pone.0057918
  9. Smith R. Peer review: A flawed process at the heart of science and journals. J R Soc Med. 2006;99(4):178-82. Disponível em: https://doi.org/10.1258/jrsm.99.4.178
  10. Hicks D, Wouters P, Waltman L, de Rijcke S, Rafols I. The Leiden Manifesto for research metrics. Nature. 2015;520(7548):429-31. Disponível em: https://doi.org/10.1038/520429a
  11. Sugimoto CR, Work S, Larivière V, Haustein S. J Assoc Inf Sci Technol. 2017;68(9):2037-62. Disponível em: https://doi.org/10.1002/asi.23833
  12. Larivière V, Haustein S, Börner K. PLoS ONE. 2013;8(3):e57918. Disponível em: https://doi.org/10.1371/journal.pone.0057918
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